terça-feira, 28 de janeiro de 2014

VEJA NÚMEROS-PA, MG, MT e SP lideram suspeitas de trabalho escravo, diz Procuradoria



Entre 2010 e 2013, ninguém começou a cumprir pena no Brasil pelo crime.
Dados da PGR marcam Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo.

Mariana OliveiraDo G1, em Brasília
As investigações do Ministério Público Federal (MPF) sobre casos de trabalho escravo em quatro estados – Pará, Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo – representam quase metade de todas as apurações sobre o tema no país, informou a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Juntos, os quatro estados têm 729 apurações em andamento, que representam 49,2% do total do país. O maior número de casos está no Pará (295 investigações), seguido de Minas Gerais (174), Mato Grosso (135) e São Paulo (125) –
veja o quadro abaixo.Nas 27 unidades da federação, estão em andamento 1.480 investigações do MPF sobre o crime de condição análoga à escravidão, que prevê punição de dois a oito anos de prisão e multa.
Unidades da federação
Investigações do MP em andamento sobre
trabalho escravo
Acre
11
Alagoas
14
Amazonas
13
Bahia
49
Ceará
4
Distrito Federal
38
Espírito Santo
16
Goiás
75
Maranhão
79
Minas Gerais
174
Mato Grosso do Sul
39
Mato Grosso
135
Pará
295
Paraíba
5
Pernambuco
30
Piauí
34
Paraná
71
Rio de Janeiro
21
Rio Grande do Norte
6
Rondônia
52
Roraima
2
Rio Grande do Sul
36
Santa Catarina
38
Sergipe
1
São Paulo
125
Tocantins
97
TOTAL
1.480
Fonte: Procuradoria-Geral da República
Os dados foram divulgados na tarde desta terça-feira (28) pela PGR, em razão das celebrações do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. O dia 28 de janeiro foi escolhido porque marca a Chacina de Unaí(MG), como ficou conhecido o assassinato, em 2004, de três auditores e um motorista doMinistério do Trabalho que investigavam trabalho escravo na cidade.
Nesta terça, a Procuradoria-Geral também lançou a Campanha de Combate ao Trabalho Escravo no Brasil, na qual o MPF pretende esclarecer à sociedade que ainda existe trabalho forçado no país e dar alternativas para a população denunciar o crime. A PGR ainda quer pedir a colaboração da Justiça para o encerramento dos processos, e voltará a acompanhar as fiscalizações do Ministério do Trabalho sobre o tema.
Ainda segundo o estudo da PGR, além das investigações em andamento no âmbito do Ministério Público, desde 2010 foram instaurados 480 inquéritos policiais nos quais a Procuradoria atua. Entre 2010 e 2013, foram abertas 469 ações penais, que são processos oriundos de denúncias do MPF.
Apesar do elevado número de investigações em andamento e de inquéritos e ações penais abertos nos últimos anos, a PGR aponta que, desde 2010, ninguém começou a cumprir pena no Brasil pelo crime de reduzir um trabalhador à condição análoga à escravidão.
Segundo a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, que coordena a 2ª Câmara de Coordenação e Revisão – responsável por questões criminais e controle da atividade policial –, a "morosidade do Judiciário" favorece a impunidade nesses casos.
Raquel enfatizou que não há execução das penas porque os condenados recorrem e os processos não chegam ao fim.
"Precisamos encurtar prazos processuais. É uma conduta inaceitável. Precisamos enfrentar [a situação] punindo quem ainda pratica [o crime de trabalho escravo]. Tenho certeza de que o Judiciário será sensível sobre a necessidade do encerramento dessas ações", afirmou a subprocuradora.
Ela destacou que uma das questões que barravam a resolução de casos era o impasse sobre se a competência para julgar o tema era da Justiça estadual ou federal. O impasse foi decidido em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que essa era uma competência federal. Desde então, apesar da resolução, as ações não transitam em julgado, ou seja, não chegam à fase em que não cabem mais recursos.
A subprocuradora também lembrou o caso da Chacina de Unaí, em que os acusados ainda não foram julgados. "Esperamos que esse julgamento ocorra e estamos confiantes na condenação, porque as provas são fortes", enfatizou Raquel.
Escravidão contemporânea
Segundo a subprocuradora, os tipos de trabalho escravo são diferentes em cada unidade da federação.
Enquanto no Pará os trabalhadores explorados atuam em pecuária e no desmatamento de áreas, em Minas Gerais o problema se concentra na produção de grãos. Em Mato Grosso, a pecuária e a agricultura são os principais motivos.
A diferença está em São Paulo, destacou Raquel, onde os casos de trabalho escravo estão na área de confecção e construção civil. "Estamos nos deparando com novas práticas de trabalho forçado, mesmo em atividades bem regulamentadas."
A subprocuradora lembrou, ainda, que uma das preocupações do Ministério Público é com o aliciamento de trabalhadores nas regiões Norte e Nordeste, que são levados para o Sudeste e acabam sendo tratados em condições análogas à escravidão.
"Locais onde há casos de trabalho escravo são também fornecedores de mão de obra vulnerável: interior do Piauí, Maranhão, Pará, Norte do Tocantins e Norte de Mato Grosso", complementou Raquel.

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